Bitcoin consome muita energia?
Embora a crítica não seja nova, o assunto ganhou destaque após a fabricante de automóveis elétricos Tesla anunciar que não aceitará mais pagamentos em Bitcoin por conta do alto consumo de energia, especialmente de fontes não-renováveis.
A Tesla, cujo CEO Elon Musk é um dos homens mais ricos do mundo, havia adquirido 1,5 bilhão de dólares em Bitcoin no início do ano. No entanto, no final de abril, um acidente em uma mina de carvão na China causou uma paralisação no fornecimento de energia na área. Isso derrubou cerca de 23% dos mineradores de Bitcoin por algumas semanas.
A mineração de Bitcoin utiliza computadores especificamente desenhados para esse processo, que consomem muita energia. Por esse motivo, os mineradores buscam os fornecedores de menor custo, e a China é conhecida por tarifas muito baixas para favorecer a indústria.
No entanto, existem mineradores instalados próximos de hidrelétricas nos EUA e Canadá, além da própria China, sem contar os produtores de gás natural na Rússia e Cazaquistão. Há inclusive tecnologias para aproveitar as sobras de gás na exploração do petróleo, que antes eram desperdiçadas.
Afinal, o Bitcoin é o vilão do consumo de energia de fontes não-renováveis? As criptomoedas que não utilizam a mineração são o futuro? O Mercado Bitcoin, exchange líder em volumes e número de clientes no país, tira suas dúvidas sobre mineração.
O que é a mineração de Bitcoin?
Para minerar bitcoin são necessários computadores que buscam soluções para equações matemáticas complexas, na base da tentativa e erro. A resolução desse cálculo é chamada de Prova de Trabalho (Proof of Work).
Dessa maneira, a mineração é o processo no qual são validadas e registradas as transações do Bitcoin sem um controle central. Minerar requer o uso de equipamentos especializados, que além de caros, consomem muita energia elétrica. Por este trabalho os mineradores recebem Bitcoins recém criados, além das taxas de transação, como recompensa.
O consumo de energia é uma falha do Bitcoin?
Não, isso foi planejado no início do protocolo, pois foi a maneira encontrada para assegurar que somente transações autorizadas sejam adicionadas ao livro-registro. O Bitcoin busca a descentralização, ou seja, impedir que uma entidade ou pequeno grupo tenha controle.
Existe um tripé onde não é possível alcançar simultaneamente todas as qualidades: segurança, velocidade, e descentralização. Segurança significa a confiabilidade de que uma transação não será revertida após a confirmação. Ao permitir uma velocidade de processamento alto, existe o risco de que determinados participantes recebam a informação com atraso.
Por último, e esse é o principal diferencial do Bitcoin, está na dependência de grupos com poderes para autorizar ou rejeitar transações. Caso o minerador resolva agir de má fé, seu bloco será rejeitado pelos demais participantes da rede, e seu dispêndio de energia fica sem retorno.
Acompanhe neste outro artigo para que serve a mineração de Bitcoin.
Todas as criptomoedas utilizam mineração?
Não. Existem criptomoedas que utilizam tecnologias de banco de dados compartilhado, como a Ripple (XRP), onde validadores previamente selecionados são responsáveis por validar as transações. Outros projetos, como Cardano (ADA) e EOS, utilizam o blockchain, porém optaram pela Prova de Participação, ou Proof of Stake.
Neste caso, existe um grupo de validadores, usualmente os maiores detentores, ou entidades apontadas como representantes pelos demais participantes. Estes validadores são obrigados a depositar certa quantia como garantia, e são penalizados quando deixam de fazer seu trabalho, ou mesmo quando autorizam uma transação indevida.
As criptomoedas que optam pela Prova de Participação desenvolveram mecanismos de defesa para evitar ataques coordenados por validadores maliciosos, porém, invariavelmente são dependentes da confiança em determinadas entidades ou grupos.
Quanta energia a rede Bitcoin consome?
Os mineradores da rede Bitcoin espalhados ao redor do mundo consomem 115 TWh de energia, segundo estudos da Digiconomist. 1 TWh significa 1 trilhão de watts consumidos por hora. O valor é comparável a um país como a Holanda, onde vivem 17,3 milhões de pessoas.
Pode parecer um número assustador, e a mídia adora estampar estes dados, embora usualmente sem oferecer um comparativo com as indústrias do ouro, ou mesmo do sistema bancário tradicional.
Pense em quantos centros de armazenamento de dados, escritórios, funcionários, agências, viagens de avião, horas dentro de automóveis, e carros-forte são necessários para garantir o funcionamento do sistema financeiro. Segundo estudo da Galaxy Digital, esta indústria consome mais de 250 TWh de energia, mais que o dobro do Bitcoin.
Ao mesmo tempo, minerar ouro usualmente envolve explosões com dinamite, metais pesados para refino e processamento, caminhões para transporte de rochas, e muita, mas muita devastação ambiental, especialmente em áreas ilegais. Novamente, a energia anual envolvida nesse processo, muito dependente do consumo do diesel, é de 240 TWh.
Afinal, quanto são 115 TWh de energia?
As secadoras de roupas residenciais nos EUA e Europa somam 300 milhões de aparelhos, dos quais cerca de 60% utilizam energia elétrica, totalizando 145 TWh de consumo. Cabe lembrar que, na maioria dos casos, isso é um luxo, pois bastaria colocar no varal para secar.
Um erro comum é associar o consumo de energia à emissão de gases poluentes. Existe uma variação muito grande no uso de energia renovável na mineração de Bitcoin ao longo do ano, pois em períodos de chuva, o consumo na região de Sichuan triplica.
Ou seja, os mineradores são capazes de mover as máquinas em busca da energia elétrica mais barata. O estudo mais recente da Cambridge em setembro de 2020 revela que 39% dos mineradores utilizam fontes exclusivamente renováveis. O número é em linha com a matriz energética mundial, na casa de 36%.
O Bitcoin desperdiça energia?
Depende do ponto de vista. Para as pessoas que não praticam natação, o aquecimento das piscinas é desperdício. De maneira análoga, a produção de papel-toalha para secar as mãos consome muita energia, que incluem distribuição e logística.
Para os milhões de usuários da rede Bitcoin, e por dia são 750 mil endereços movimentando moedas, o valor desta segurança é inestimável. Afinal, não existe nenhum outro sistema no mundo capaz de assegurar que uma transação é irreversível após 20 minutos.
Pense no cartão de crédito, por exemplo. As transações podem ser revertidas semanas, ou até meses, em caso de suspeita de fraude ou reclamação. Já a remessa de valores interbancários, especialmente internacionais, depende de diversas entidades centralizadas, que podem censurar transações, e até mesmo bloquear contas.
Como o Bitcoin pode se tornar ‘verde’?
O Bitcoin é um protocolo, um software de computador, portanto não escolhe qual a melhor, ou mais limpa fonte de energia utilizada nas máquinas de mineração. Ao mesmo tempo, a natureza descentralizada impede a premiação, ou multa, para determinado grupo de mineradores.
Em contrapartida, o equipamento de mineração pode ser transportado em containers, e já é utilizado em regiões remotas, por exemplo, em plataformas de petróleo. Nesses locais, é comum que o dejeto de gás seja queimado, pois não há dutos ou maneira de armazená-lo.
No momento em que os governos colocarem sobretaxas na energia produzida pelo carvão, imediatamente os mineradores de Bitcoin vão procurar outras fontes. No entanto, para as indústrias estabelecidas nestas regiões, não há outra opção. Por esse motivo, não se pode culpar o Bitcoin por este consumo.
No vídeo abaixo, a equipe da @usecripto fala mais sobre a relação entre consumo de energia e criptomoedas:
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