O futuro das stablecoins descentralizadas
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Stablecoins são criptomoedas que foram projetadas para manter um valor estável em relação a outra moeda ou ativo, como o dólar americano ou o ouro. Elas oferecem uma alternativa mais estável e previsível para investidores e usuários que buscam evitar a volatilidade do mercado de criptomoedas, além de facilitar pagamentos e a negociação de ativos. Neste artigo, discutiremos o atual panorama do mercado de stablecoins e suas implicações para o ecossistema de finanças descentralizadas.
Hoje, quando observamos as 10 maiores stablecoins em capitalização de mercado podemos notar que apenas 3 destas são descentralizadas. Um número baixo para uma indústria que busca oferecer uma alternativa descentralizada ao mercado financeiro tradicional. Mas afinal, o que diferencia uma stablecoin descentralizada de uma stablecoin centralizada?
Stablecoin Centralizada | Stablecoin descentralizada | |
Controle | A stablecoin é controlada por uma empresa | A stablecoin é controlada por contratos inteligentes governados por uma DAO |
Transparência | O nível de transparência depende do que é divulgado pela empresa | É completamente transparente já que é operada on-chain |
Censura | Não é resistente a censura, muitas vezes a empresa pode fazer o blacklist de endereços | Resistente a censura, não é facilmente controlada por uma única entidade. |
Além disso, stablecoins centralizadas dependem da infraestrutura do mercado tradicional e por isso estão sujeitas ao risco regulatório, geográfico e bancário associado a suas operações. Situações como as que vivemos em março deste ano com o colapso do Silicon Valley Bank afetando diretamente uma das maiores stablecoins do mercado, o USDC, escancaram a necessidade de stablecoins descentralizadas.
Olhando este panorama parece extremamente contraditório utilizar as opções atuais de stablecoins com uma peça chave para a construção de um ecossistema financeiro descentralizado. O uso de stablecoins centralizadas importa toda a fragilidade do sistema financeiro tradicional a nova realidade das finanças descentralizadas. Por isso é importante não apenas aumentar a adoção de soluções descentralizadas para stablecoins como também aperfeiçoar os modelos atuais.
De longe a stablecoin descentralizada mais bem sucedida é o DAI da MakerDAO com cerca de US$ 5 bilhões de capitalização de mercado. O DAI utiliza a sobrecolateralização aliada a mecanismos econômicos para manter seu valor em paridade com o dólar americano.
Apesar do sucesso do DAI, existem alguns problemas com seu design atual como a ineficiência de capital gerada pela sobrecolateralização e a grande parcela de colateral em stablecoins centralizadas. Hoje, mais de 26% das reservas que dão lastro ao DAI estão alocadas em USDC e outros 12,6% em ativos do mundo real (RWAs) como títulos do governo americano e debêntures. Essa grande exposição a ativos centralizados pode ser um futuro vetor de ataque e prejudicar a descentralização do DAI.

Fonte: DaiStats.com
O uso do USDC e RWAs é justificado, manter a moeda estável utilizando apenas colateral descentralizado já se provou uma tarefa difícil no passado. Stablecoins que utilizam apenas colateral descentralizado como o LUSD da Liquity tem uma volatilidade muito maior que outras stablecoins.

Fonte: Coingecko
Apesar de eliminarem o problema da centralização, as moedas que, assim como o LUSD, utilizam apenas colateral descentralizado ainda possuem o problema de uma menor eficiência de capital, já que também utilizam o sistema de sobre-colateralização. Com este problema em mente, desenvolvedores acabaram criando o modelo algorítmico de stablecoin que maximiza a eficiência de capital e descentralização da moeda.
Stablecoins algorítmicas mantém sua estabilidade utilizando algoritmos associados a uma oferta elástica que permitem manter o preço em paridade com um ativo sem a necessidade de reservas. A grande falha deste modelo é sua fragilidade em relação a mudanças bruscas de preço que podem gerar uma “espiral da morte” como a que vimos acontecer com a Terra e o UST no ano passado.
Dessa forma podemos propor um trilema para stablecoins levando em consideração sua descentralização, eficiência de capital e estabilidade, onde uma stablecoin pode alcançar apenas duas dessas características de forma eficaz, deixando a terceira de lado. O trilema das stablecoins se desdobra da seguinte maneira:
- Descentralização: refere-se à ausência de controle centralizado, permitindo que a stablecoin opere de forma transparente e imparcial, sem depender de uma única entidade ou autoridade para gerenciá-la. Stablecoins descentralizadas são geralmente criadas e gerenciadas por contratos inteligentes e organizações autônomas descentralizadas (DAOs).
- Eficiência de capital: está relacionada à capacidade de utilizar ativos de maneira eficiente para garantir a estabilidade do valor da stablecoin, reduzindo a necessidade de manter grandes quantidades de colaterais ou recursos financeiros bloqueados para assegurar seu valor.
- Estabilidade de preços: refere-se à capacidade de manter um valor consistente e previsível ao longo do tempo, mesmo em face da volatilidade do mercado de criptomoedas e mudanças na demanda. Uma stablecoin com alta estabilidade de preços mantém seu valor próximo ao de uma moeda de referência, como o dólar americano.
Podemos organizar os tipos de stablecoins que existem hoje da seguinte maneira:
- Stablecoins centralizadas: este tipo de stablecoin oferece maior estabilidade e eficiência de capital em detrimento de sua descentralização.
- Stablecoins sobrecolateralizadas: este tipo de stablecoin sacrifica a eficiência de capital para oferecer maior descentralização e estabilidade.
- Stablecoins algorítmicas: este tipo de stablecoin oferece maior descentralização e eficiência de capital, sacrificando sua estabilidade.

Uma stablecoin que solucione o trilema pode revolucionar o atual ecossistema das finanças descentralizadas, liberando uma imensa quantidade de capital que pode fluir para usos mais ativos dentro da rede tudo isso com uma opção descentralizada, estável e eficiente.
Em suma, o atual panorama do mercado de stablecoins gera diversos problemas de descentralização e eficiência de capital para o ecossistema de finanças descentralizadas. Da mesma forma em que existe um esforço conjunto para se superar o trilema das blockchains, um esforço parecido para solucionar o trilema do mercado de stablecoins deve trazer uma necessária inovação ao setor com soluções que permitam maior eficiência conservando a descentralização e estabilidade dos ativos.