Descentralização na Ethereum

Neste artigo vamos abordar um dos tópicos mais polêmicos e importantes da rede da Ethereum, sua descentralização.

Um protocolo cripto como a Ethereum possui na verdade várias categorias em que é importante se atingir alto grau de descentralização. Dessa forma, vamos abordar cada uma delas, entender qual a situação atual e o que os participantes da rede podem fazer para auxiliar com essas métricas.

Quantidade e diversificação nos clients da camada de Consenso

A camada de consenso (CL) da Ethereum é conhecida como Beacon Chain, e é onde o consenso é atingido e a validação dos blocos é processada. 

Essas categorias medem quantas opções de clients existem na camada de consenso e como a quantidade de nós está distribuída entre esses clients.

Atualmente existem 5 grandes clients na CL, sendo eles — dados são aproximados e variam de acordo com o tempo:

• Prysm, com 39% do total;
• Lighthouse, com 37% do total;
• Teku, com 17,5% do total;
• Nimbus, com 6% do total;
• Lodestar, com menos de 1% do total.

No ano passado, a concentração dos clients no Prysm era de mais de 66% do total, representando um risco para o protocolo. A própria equipe por trás da Prysm fez uma campanha em prol do uso dos outros clients, visando justamente melhorar essa métrica e o resultado foi tão bem sucedido que o próprio Vitalik reconheceu o esforço dos envolvidos.

Quantidade e diversificação nos clients da camada de Execução

A camada de execução (EL) da Ethereum é onde residem os dados referentes a contratos inteligentes e onde são efetivamente executadas as transações.

Atualmente, existem 5 grandes clients na EL, sendo eles — dados são aproximados e variam de acordo com o tempo:

• Geth, com 64% do total;
• Nethermind, com 16,5% do total;
• Erigon, com 11% do total;
• Besu, com 9% do total;
• Openethereum, com menos de 1% do total;

Apesar de muita melhora no indicador (Geth antigamente tinha 80% do mercado), é evidente a ainda alta concentração no Geth. Os principais esforços da comunidade na atualidade são justamente mirando uma diversificação para as outras possibilidades.

Market Share dos validadores fora de Data Centers

Além da diversificação dos clients em si, é importante que não haja um ponto único de falha. A concentração de poder de validação em grandes Data Centers, por exemplo, é um risco principalmente no caso do desligamento repentino desses grandes validadores.

Assim, quanto mais poder de validação fora desses grandes centros, mais seguro será o protocolo contra quedas.

Market Share dos validadores fora das pools

Outros pontos de falha possíveis são as pools, que funcionam como provedores do serviço de staking para diversos usuários, concentrando grande poder de validação.

Fazer o staking individual seria uma boa solução para tal problema, mas uma grande barreira existente nesse caso são os 32 ETH (atualmente o equivalente a US$40.000) necessários para realizar este staking.

Outro problema é o risco técnico. No caso de alguma violação das regras de validação, ocorre uma penalidade denominada slashing, que retira a posse de certa quantidade de etheres travados pelo validador no contrato, conforme a gravidade da violação.

Diversidade geográfica dos nós

Muito poder de validação em poucos países pode representar um grande risco para o protocolo. Países como a China já baniram diversas vezes a mineração de diversos criptoativos, como o bitcoin.

Mesmo que muito da narrativa seja devido ao gasto energético do PoW, não existe garantia que governos (principalmente ditatoriais) não façam o mesmo com as criptos de PoS. 

Diversidade geográfica é extremamente relevante para mitigar esses riscos, pois reduz esse poder dos governos de prejudicar a rede.

Diversidade nas entidades que fazem Stake

Também é relevante que entidades distintas atuem como validadores da rede, justamente para descentralizar a responsabilidade e evitar quedas em caso de falência ou desistência de alguma instituição específica.

O site ethsunshine.com fornece um apanhado geral da situação de cada uma dessas categorias, atualizando os valores diariamente e avaliando o estado atual de descentralização da rede, como vemos abaixo:

Conclusão

Apesar da boa classificação na maioria das categorias, ainda chama a atenção a grande concentração de clients da camada de execução e a ainda baixa diversidade de pools de staking da Ethereum.

A comunidade está ciente dessas deficiências e, a cada dia que passa, percebemos um maior movimento dos participantes para fortalecer essas métricas com objetivos claros e metas temporais para seu atingimento.

Vale ressaltar que – como o próprio site aponta – quando comparamos a descentralização da rede da Ethereum com outras redes, percebemos um cenário bem mais positivo, indicando que a rede ainda está na vanguarda em relação a seus pares.

Fontes:
https://clientdiversity.org/
https://ethsunshine.com/
https://twitter.com/VitalikButerin/status/1526934223486976000
https://ethernodes.org 

Rony Szuster
Rony é Engenheiro Químico com pós-graduação em Engenharia de Software, imerso no mercado cripto desde 2019 foi contribuidor do Messari Hub de 2021 a 2022. Atualmente integra a equipe de analistas de criptoativos do MB.