Redes sociais descentralizadas
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Fonte: imagem aspiresoftware.in.
Quem hoje em dia não tem uma rede social? Acredito que todos, seja uma conta no Twitter, no Instagram, no LinkedIn, entre outras – já que estas são as mais famosinhas -, e fica até difícil ter apenas uma.
Eu sou do tempo do Orkut, (quem mais?), que era uma das redes sociais que mais adorava… 12 fotos no álbum, depoimentos no topo, comunidades! Ah, comunidades! Há quem diga que as comunidades vieram do mundo dos games e cripto, mas é mais antiga do que imaginamos.
Contudo, muita coisa mudou de lá pra cá… hoje, já falamos até da Web 3, mídias sociais descentralizadas… mas como deve ser isso? Isso tudo te assusta ou te anima? É sobre isso que quero abordar, mas, antes, vamos entender o conceito de redes sociais.
Redes sociais
Redes sociais são plataformas digitais que têm como objetivo principal a interação do usuário com alguma marca, além de permitir que os usuários configurem seus perfis de forma pública ou privada, compartilhando conteúdos pessoais e conexões com outros usuários que tenham interesses em comum, como experiências pessoais e profissionais, e com comunidades, em tempo real, facilitando a troca de informações e ideias.
Legal, mas quem controla tudo isso?
Bom, atualmente, já estamos convivendo com as redes sociais centralizadas, que são administradas e controladas por uma empresa, ou seja, todos os seus dados, histórico de navegação, informações, busca, conexões, etc. são armazenados em um banco de dados da empresa e em um servidor central, que fica sob o controle dela.
Todas essas informações coletadas valem ouro, afinal, um dos grandes objetivos das redes sociais é ser uma ferramenta para impulsionar os negócios, a interação com clientes, a troca de experiências, enfim, as possibilidades são infinitas, tudo isso com os dados do usuário, permitindo o alcance de um público determinado para construir, de forma digital, uma presença forte com a marca e a sociedade. Além disso, as redes sociais centralizadas se remuneram com a venda de dados do usuário para outras empresas com a finalidade de ter um público mais fiel e próximo possível do potencial de compra, – inclusive, é uma das principais formas de receita das organizações das redes sociais, além do ganho com publicidade. Mas, para alguns usuários, esse tipo de centralização, controle e direcionamento não faz mais sentido, afinal, não é claro e transparente o caminho pelo qual esses dados são, de fato, direcionados e compartilhados.
Acredito que esse desconforto e movimento seja causado pela mudança e evolução da atual geração, pois percebo que os usuários estão cada vez mais conscientes dos riscos associados ao compartilhamento de informações pessoais e sensíveis nas redes sociais.
E quanto a essa nova era de redes sociais descentralizadas?
Diante de todo esse cenário de controle de dados, houve um apelo por uma rede social em que os usuários pudessem ter acesso sem a necessidade da coleta de dados pessoais e sensíveis, com autonomia e que não dependesse necessariamente de uma empresa.
Então, por conta desse comportamento, surgiu o conceito de redes sociais descentralizadas, que tem como objetivo dar acesso, clareza, transparência e autonomia ao usuário com o compartilhamento de conteúdos, produtos e serviços, além de interações e experiências, sem depender de uma organização centralizada. Imagine uma rede social em que os conteúdos dos usuários são armazenados em uma blockchain (rede segura e transparente de dados), com servidores independentes, e, dessa forma, nenhum terceiro pode coletar ou vender dados do usuário. Demais, né?
Para o pessoal de tecnologia, vale ressaltar que os desenvolvedores que utilizam a blockchain como base buscam as melhores práticas para criar redes sociais com o poder e a autonomia da descentralização, ok? Então, as mídias sociais descentralizadas também buscam atender a diferentes aplicações de dApps (aplicativos descentralizados), com base em contratos inteligentes que operam nas redes blockchains.
E quais são os grandes benefícios, além da descentralização das redes sociais?
Além de fazer parte dessa grande revolução tecnológica pela qual estamos passando, as redes sociais descentralizadas usam a tecnologia das blockchains para armazenar e gerenciar os dados e conteúdos dos usuários de forma pública e transparente – e isso é totalmente diferente das redes tradicionais da Web 2, em que você não tem visibilidade dos dados e não sabe onde eles são armazenados. Assim, as redes sociais descentralizadas trazem mais segurança e transparência para o usuário.
Ainda, existem diversos outros benefícios:
- Dados descentralizados
O uso da blockchain nas mídias sociais traz a confiança de volta à privacidade das redes, devido à sua natureza transparente, criptográfica e imutável, ou seja, os dados do usuário são armazenados de forma descentralizada em toda a rede e ficarão para sempre registrados em blockchain. Qualquer usuário que tenha conhecimento básico técnico pode consultar diversas informações na blockchain.
- Privacidade
Nas redes sociais descentralizadas, os usuários podem criar contas sem precisar estar vinculados a “identidades” (como endereço de e-mail ou número de telefone, por exemplo). Em algumas, é necessário ter o endereço de uma carteira digital, sendo sua única e principal identidade digital. As redes sociais descentralizadas dependem e operam com a criptografia de chave pública para a segurança da conta, sem depender de uma única organização para proteger os dados do usuário.
- Autenticação segura do usuário
Os usuários das redes sociais descentralizadas da Web 3.0 são identificados e autenticados por meio de uma infraestrutura de chave pública segura por intermédio de uma carteira digital (wallet).
- Código aberto
As redes sociais descentralizadas foram desenvolvidas com base em um código aberto. Dessa forma, é possível oferecer o código-fonte para auditorias públicas, incentivando a confiança em aplicativos e protocolos de mídia social descentralizados.
- Contratos inteligentes
As redes sociais descentralizadas são alimentadas por contratos inteligentes nas blockchains. O código do contrato serve como back-end para as plataformas de mídias sociais e caracteriza sua lógica de negócios. De acordo com cada proposta de mídia social, é possível parametrizar tudo em um contrato inteligente, garantindo a operacionalização via registro das regras do contrato.
- Monetização
Algumas redes de mídia social descentralizadas fornecem uma estrutura de monetização para criadores de conteúdo, incentivando e remunerando os usuários que desejam criar conteúdos específicos e que exigem estudo e pesquisa. Uma das formas das redes descentralizadas ajudar no uso de pagamentos criptográficos é com o uso de NFTs (Tokens Não Fungíveis). Ainda, muitas plataformas sociais descentralizadas possuem tokens nativos que alimentam a monetização na ausência de receita de publicidade. Dessa maneira, os usuários podem comprar esses tokens para acessar determinados recursos, concluir compras nos aplicativos e dar dicas a seus criadores de conteúdo exclusivos ou favoritos.
Legal, mas já existem redes sociais descentralizadas?
Sim – e muitas! Algumas estão em fase de desenvolvimento, outras em versão beta.
A seguir, eu trouxe alguns exemplos:
- Lens Protocol é um gráfico social descentralizado que oferece aos usuários ferramentas para eles criarem suas próprias plataformas de mídia social usando a tecnologia Web 3.0. Além disso, permite que os seguidores sejam vinculados ao seu perfil de NFT.
- Indorse é uma rede profissional descentralizada baseada em recompensas na blockchain Ethereum que foi desenvolvida como um modelo de rede profissional no estilo do LinkedIn, mas os membros mantêm a propriedade dos dados enquanto ganham recompensas por compartilhar suas habilidades profissionais e usar a plataforma.
- Steemit é um blog baseado em site de mídia social que foi desenvolvido para recompensar usuários ativos com Bitcoin.
- Only1 é um protocolo baseado em NFT alternativo construído em Solana que utiliza NFTs para permitir que criadores de conteúdo interajam com seus fãs sem a necessidade de terceiros.
- Diaspora é uma das mais antigas redes de mídia social descentralizadas e foi apresentada como uma alternativa ao Facebook. A rede é composta de servidores chamados “pods”, distribuídos em todo o mundo, com cada um contendo os dados dos usuários que optaram por se registrar nele.
- Mastodon é uma rede de microblogging gratuita que funciona como uma alternativa de código aberto ao Twitter e oferece a possibilidade de gerenciar seu público sem intermediários implantados em sua própria infraestrutura.
- Blurt é uma mídia social que permite que os usuários sejam recompensados por compartilhar suas vozes. O aplicativo cria uma economia social para seus usuários e sua blockchain cria novos tokens BLURT e os adiciona ao “pool de recompensas” de uma comunidade. Os tokens, então, são concedidos aos usuários por suas contribuições.
- Pixelfield é uma alternativa descentralizada ao Instagram e ao Facebook que oferece controle sobre seus dados e controla a privacidade das imagens sem anúncios na rede, além de ser uma plataforma de compartilhamento de fotos gratuita com ética, fornecida pela federação Activity Pub e licenciada gratuitamente sob a licença AGPL. A plataforma de compartilhamento de fotos também oferece filtros com a opção de atribuir uma licença a uma imagem.
Além de todas essas, eu acredito que vão surgir muito mais, pois, no mundo cripto, todos os produtos e serviços nascem com o objetivo de oferecer menos controle do sistema tradicional e suprir a atual dor do mercado.
Para tudo isso ficar mais claro, trago uma comparação entre redes sociais centralizadas e descentralizadas:
Redes sociais centralizadas | Redes sociais descentralizadas |
Administradas e controladas por empresas | Não requerem controle e administração de empresas e organizações |
Controle total sobre o conteúdo | Alimentadas por contratos inteligentes implantados na blockchain |
Controle e armazenamento de dados | Construídas em código aberto para inspeção pública |
Uso dos dados dos usuários para publicidade | Privacidade dos dados dos usuários |
Usuário visto como um produto | Armazenamento de dados descentralizado registrado em blockchain |
Falta de transparência com os dados coletados | Criadores de conteúdo têm controle total sobre o material |
Vulnerabilidade e risco de vazamento de dados | Poder de votação e melhorias na governança da plataforma |
Poucas oportunidades de monetização | Grandes oportunidades de monetização de forma descentralizada |
Acesso limitado e controlado de conteúdo | Sem risco de indisponibilidade de servidores |
Não possuem backup para o usuário dos conteúdos publicados | |
Monitoradas por governos | |
Risco de indisponibilidade dos servidores |
Conclusão
Eu estou ansiosa para ver essa migração e usabilidade na vida das pessoas.
Já fazemos parte desse movimento e acredito que a mudança será sutil, assim como foram as que permitiram a ascensão das redes sociais centralizadas.
Eu acredito muito no objetivo da Web 3, já que ela vem promover uma economia voltada para os criadores e recompensá-los por sua participação, sendo uma nova forma de interação nas redes sociais.
Por fim, eu vejo que o comportamento do usuário das redes sociais tem mudado rapidamente no mundo digital e as empresas mais propensas a responder às tendências rapidamente podem ter sucesso e maior engajamento com os usuários e as pessoas que ainda não estão inseridas nesse cenário.
Fica aqui o meu convite para você ficar atento às redes sociais descentralizadas e tudo o que a Web 3 pretende oferecer. Sei que temos um longo caminho e muitas oportunidades pela frente para desenvolver, atrair, resolver e facilitar a usabilidade dos usuários, não só das plataformas digitais como de tudo o que o mercado criptográfico oferece.
Ainda surgirão diversas plataformas descentralizadas que vão impactar positivamente o dia a dia das pessoas – resta saber qual delas irá atender à dor de cada público e à necessidade de cada geração.
Débora Conconi é especialista de negócios no Mercado Bitcoin e entusiasta do mercado cripto e de produtos e tecnologias.